"Cão surdo é adotado por estudante surdo e ganha nova chance na vida"
Cão abandonado pela família por ser surdo é adotado por estudante que também é surdo
Por YesPets -
20 de janeiro de 2020
Infelizmente, assim como muitas pessoas, os pets também sofrem preconceito por ter algum tipo de deficiência. Diversos casos de abandono já foram noticiados no Brasil referente a pais que abandonam seu cãozinho após a descoberta de alguma doença ou por ter sofrido algum tipo de acidente e, consequentemente, tornando-se deficiente, seja auditivo, visual ou físico.
Este é o caso de Jögan, um cãozinho de 11 meses que foi devolvido ao abrigo por uma família após descobrirem que ele era deficiente auditivo. Apesar desse impasse, a história do animal teve um final feliz: João Gabriel Ferreira Duarte, estudante de Doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina, que também é deficiente auditivo e mora com outras três pessoas, sendo dois surdos e o terceiro, filho de pais surdos, decidiu adotar o cachorro que tinha retornado à Diretoria de Bem-Estar Animal (DIBEA), local onde estava amparado.
Em entrevista para a Pet, João conta que eles já moram com uma cadela, mas ele tinha o desejo de adotar um cãozinho que também fosse deficiente auditivo. “Eu tinha comentado com eles que queria adotar um cão surdo igual a gente. E então um amigo me alertou sobre um cachorro surdo nas redes sociais da DIBEA”, disse.
Foto: João Gabriel Ferreira Duarte/Acervo Pessoal
Assim que soube da história de Jögan, o estudante foi até o local onde ele estava abrigado e realizou todas burocracias necessárias para que a adoção ocorresse. “Em três dias, nos mandaram mensagens pelo WhatsApp com algumas perguntas e fomos aprovados. Também explicamos que éramos surdos, e que já tínhamos nossa cadela. Usamos língua de sinais brasileira (Libras), e achamos que seria bom para o Jögan”, conta.
Em relação ao nome incomum, João diz que o cão, antes chamado de “Pirata”, teve seu nome escolhido por se assemelhar a um desenho japonês. “Eu dei o nome porque eu estava lendo sobre Jögan, um tipo de olho. É de um anime japonês que estava acompanhando uns dias antes de saber do Jögan. Aí quando o vi, de cara me recordei do anime. Por causa do olho que é bem parecido”, afirmou.
Foto: João Gabriel Ferreira Duarte/Acervo Pessoal
Apesar da surdez, o cãozinho leva uma vida inteiramente normal e, de acordo com o estudante, ele não necessita de qualquer cuidado especial, muito pelo contrário! Justamente pela deficiência, Jögan tem os sentidos bem aguçados, como visão, olfato e tato, que permitem que ele perceba com facilidade tudo o que está acontecendo ao seu redor.
Fala, especialista!
Para saber mais, conversamos com a Médica Veterinária da Pet, Mônica Calligaris, sobre algumas dúvidas recorrentes sobre o assunto, afinal, é importante que todos os pais de pet entendam sobre o assunto, já que todos os cães podem adquirir a surdez ao longo da vida.
Como é possível detectar a surdez em um cão?
Mônica Calligaris: um cão pode nascer surdo ou adquirir a doença ao longo da vida, por uma série de fatores, sendo a otite uma das causas mais conhecidas. Em qualquer dos casos, é possível identificar que o cão está surdo por sinais como: tempo exagerado de sono,coceira frequente nas orelhas, podem apresentar mau cheiro e sensibilidade ao toque (dor), latidos em excesso e sem motivo aparente, desobediência a chamados, além, principalmente, da indiferença aos demais sons e não acordar quando for chamado pelo tutor vocalmente. Na parte clínica, em relação a exames, hoje pedimos a tomografia, mas alguns laboratórios podem realizar o ultrassom do crânio. Em minha opinião, em termos de exames de imagem, a tomografia é bem melhor.
Sobre o dia a dia, quais os cuidados que os pais devem ter ao adotar um cão surdos?
Mônica Calligaris: os cães, mesmo perdendo a audição ou nascendo surdos, eles podem contar com o sentido do olfato e da visão. Os cuidados especificamente com esse animais são os seguintes: passeios em coleira para que não se sintam desorientados, colocar plaquinhas de identificação, caso se percam por algum motivo e, principalmente, treinar os seus sentidos. Ao cuidar de um cão surdo, é óbvio que ele não poderá responder aos chamados, e para que se aproxime, ele deverá ver ou sentir o cheiro da pessoa. Os cães são muito bons em recordar aromas que são familiares. Por exemplo, na hora da comida, o pai só terá que colocar a ração em seu prato e esperar alguns instantes. Só alguns segundos se a ração for úmida ou a comida estiver quente. Se a pessoa quer chamar a atenção, basta ficar próximo ao cão, para que ele veja ou reconheça pelo cheiro. Também pode ensinar um tipo de linguagem de sinais que seja simples e que o cão possa compreender rapidamente. Muitas destes sinais já são utilizados no dia a dia. Uma dica muito importante: nunca abordar um cão surdo por trás, pois ele pode se assustar e, automaticamente, atacar. Por isso, o indicado é se aproximar sempre devagar, de forma que o cão o veja com clareza. Se ele estiver dormindo e deseja acordá-lo, nada de movimentos bruscos, é melhor acariciá-lo suavemente e colocar a mão perto do nariz dele, para que ele possa identificar o cheiro do pai ou pessoas do convívio dele.
O que uma pessoa que deseja adotar um cão surdo precisa saber?
Mônica Calligaris: antes de mais nada, amor, carinho e dedicação! Em primeiro lugar, precisa de adaptações no ambiente, mas não necessariamente vai requerer tratamento veterinário específico e contínuo. Conversar com um especialista sobre as necessidades de um cachorro deficiente é importante para estimar os gastos e cuidados que a pessoa terá com o cão. Em alguns casos, cachorros deficientes podem levar mais tempo e ter mais dificuldade para se adaptar. E os pais também terão que fazer algumas adaptações. Por conta do olfato aguçado desses pets especiais, é possível ensiná-los a fazerem suas atividades normalmente, como beber água ou mesmo fazer xixi no lugar certo.Mas é preciso ter um acompanhamento de um profissional da área e, em alguns casos, disponibilidade de tempo e de dinheiro.
Por fim, um cachorro surdo consegue realizar suas atividades normalmente, já que o olfato e a visão estão presentes. Muito importante estimular esses sentidos. Como nossa voz é uma forma importante de estabelecer vínculo com os cães, fazer bastante carinho para compensar a ausência dela.
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